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Vereadores do PS manifestam profundo desconforto com visita do Embaixador de Israel

  • Foto do escritor: pscvcom
    pscvcom
  • 25 de jul.
  • 3 min de leitura

Os vereadores do Partido Socialista, manifestaram o seu desconforto e apelaram à paz, à justiça e à dignidade humana, na reunião de Câmara do passado dia 16 de julho.


Num momento em que milhares de civis morrem em Gaza, receber em Castelo de Vide, oficialmente, o Embaixador de Israel, sem qualquer palavra de solidariedade, é um gesto que nos inquieta profundamente.


Intervenção completa do Vereador João Diogo Carlos:


«Senhor Presidente, Senhoras e Senhor Vereadores,


Tomo a palavra para partilhar uma posição, em nome dos Vereadores eleitos pelo Partido Socialista, sobre a anunciada visita do Embaixador de Israel a Castelo de Vide, agendada para o próximo dia 27 de julho.


Foi-nos comunicado que a visita tem natureza oficial, com receção no Salão Nobre dos Paços do Concelho, assinatura do Livro de Honra e deslocações a espaços emblemáticos do nosso património: o Centro Histórico, a Sinagoga Medieval, a Casa da Inquisição, entre outros.


Naturalmente, reconhecemos o simbolismo histórico desta visita, sobretudo à luz da herança judaica da nossa vila, herança que nos enriquece e que deve ser respeitada. Compreendemos igualmente que a presença do Embaixador se inscreva no quadro da diplomacia bilateral, sendo este o início do seu mandato em Portugal.


Queremos usar esta intervenção para expressar, com respeito institucional, mas com total clareza de consciência, o nosso profundo desconforto perante a visita oficial do Embaixador de Israel a Castelo de Vide.


Num momento em que o mundo assiste, em direto e com horror, a uma escalada de violência sem precedentes na Faixa de Gaza, onde milhares de civis, sobretudo crianças, têm perdido a vida, a receção pública e institucional a um representante de um Estado envolvido em ações amplamente denunciadas como violações graves do direito internacional levanta uma questão ética e política que esta Câmara não pode ignorar.


Israel, sob o atual governo, é acusado de crimes de guerra e de violações sistemáticas do direito internacional humanitário. São mais de 38 mil mortos, na sua maioria civis. Milhares de crianças. Hospitais, escolas e campos de refugiados atacados. A ONU fala de uma “catástrofe moral”. O seu Secretário-Geral, António Guterres foi claro desde o primeiro momento. E organizações internacionais de direitos humanos não têm deixado margem para ambiguidade.


Não se trata de um gesto de hostilidade diplomática gratuita, mas sim de um posicionamento de consciência humanista e democrática. Como representantes eleitos, e como cidadãos, não podemos compactuar com a normalização institucional de quem, neste momento, impede ajuda humanitária, bombardeia campos de refugiados, destrói hospitais e atua com impunidade sobre uma população sitiada e desesperada.

Portugal, e em particular as suas autarquias, sempre foram faróis de liberdade, paz e solidariedade entre os povos. A receção, sem qualquer sinal de ponderação crítica ou equilíbrio simbólico, ao Embaixador de Israel, compromete esse legado.


A paz não se constrói com silêncios cúmplices. Constrói-se com justiça, coragem e verdade.

Por isso, não podemos deixar de lamentar também a inércia prolongada da União Europeia e a fraqueza diplomática do Estado Português, que, em nome de uma falsa neutralidade, têm falhado em assumir posições firmes e exigentes na defesa do direito internacional, dos direitos humanos e da dignidade do povo palestiniano.


Quando os princípios europeus se calam perante a barbárie, já não são princípios, são retórica.


Fazemos daqui três apelos muito claros:

1. Que esta Câmara registe formalmente o desconforto e a divergência de parte dos seus membros face à receção oficial ao Embaixador de Israel;

2. Receber um embaixador é um ato diplomático, mas também simbólico e político. E como tal, deve ser feito com ponderação, consciência e respeito pelos valores fundamentais que nos devem unir enquanto comunidade: a paz, a dignidade humana, o direito à vida, o direito à liberdade.

3. Não contestamos a realização da visita, mas entendemos que o Município não deve ser cúmplice de um silêncio absoluto perante a tragédia em curso. Seria, no mínimo, exigível um gesto público, uma palavra de solidariedade com todas as vítimas civis, um apelo ao cessar-fogo e à paz, um sinal de que Castelo de Vide, terra de memória, não é indiferente ao sofrimento dos povos.


Como democratas e, sobretudo, como seres humanos, não podemos calar-nos.


O silêncio institucional, neste contexto, não é neutralidade: é uma posição.

Castelo de Vide não pode tornar-se um palco de normalização de regimes que praticam a opressão.


A história julga sempre os silêncios. Que este não seja mais um.»


 
 
 

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